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terça-feira, 12 de abril de 2011

O Haiti é aqui; o Haiti não é aqui


Copiado do Portal da UnB do dia 6/abr/2011
Responda rápido e sem preconceitos: você aceitaria um convite para ser professor universitário na Colombia, na cidade de Cali,? Por favor responda de novo e desta vez sem preconceitos. A Universidad del Valle está com 31 vagas abertas para professores de diversas áreas, a maioria em tempo integral (ver aqui). Ainda não se animou? Se olharmos para os últimos dados do ranking Webometrics de universidades, de janeiro de 2011 (acesse aqui), é possível ver a USP na 51ª possição, a UnB na 328ª e a del Valle em 958º lugar.  Somente esses dados, somado ao (infeliz) preconceito generalizado sobre a Colombia, já fariam qualquer profissional "sério" achar que este post é apenas mais uma brincadeira didática para os alunos de metodologia.

No e-mail de divulgação que recebi há um tópico intitulado "Por que se vincular à Universidade del Valle?", que elenca alguns benefícios que para mim, como professor da UnB, são absolutamente estranhos para a minha realidade (talvez sejam mais comuns no universo do poder legislativo brasileiro). Destaco algumas:
  • 16,89 salários anuais, incluídos gratificações e respectivas taxas adicionais sobre elas (exatamente igual ao caso da UnB, onde mal recebemos 13 salários, com corte das gradificações de férias e incerteza sobre o adicional de 26% da URP);
  • após dois anos de efetivação, direito a receber comissão no caso de capacitação para mestrado ou doutorado (exatamente igual à UnB que quer cercear o direito de férias de professores afastados para capacitação);
  • comissionamento para assistir ou participar como representante da universidade em funções didáticas, de pesquisa ou extensão (exatamente igual à UnB que nos paga sempre corretíssimas diárias e nos financia em todas nossas representações);
  • ano sabático (coisa para lá de usual em todas as grandes universidades do mundo, que libera de tempos em tempos seus professores para dedicarem-se integralmente à pesquisa por um ano inteiro, assim como ocorre em todas as IFES brasileiras)
  • bonificações pagas em contrapartida a produtos acadêmicos tais como
    > vídeos, audiovisuais, ou produção sonora de impacto regional ou local (como foi o caso de colegas da UnB que ganharam prêmios no Festival de Cinema de Brasília);
    > obras artísticas que tenham impacto regional ou local;
    > apresentação em eventos especializados (eles pagam mais para quem apresenta trabalhos em congressos!, igualzinho às IFES nacionais);
    > publicações especializadas, incluindo traduções (também pagam mais, assim como nós, aos professores mais produtivos);
    > orientação de teses e dissertações (quem orienta mais recebe mais, quem não orienta recebe menos, "iguar qui nem" aqui).
Já sei, já sei. Tem gente pensando "pena que a Colombia é tão longe", ou "Ok, mas salário não é tudo, como será que é infraestrutura física ?"
Copiado do blog "Ciência Brasil"
Em 1974 o economista Edmar Bacha cunhou o termo "Belíndia", para indicar os contrastes de um país que tem uma elite com riqueza similar aos belgas e um estrato de pobreza equivalente à Índia. Em 1993 Caetano Veloso compôs Haiti, que destaca os contrastes de uma sociedade desigual e hipócrita. Será que a redenção das universidades brasileiras, e o seu posicionamento estratégico em um projeto nacional, só será possível se  um terremoto avassalador, como o que varreu o Haiti no ano passado, destruir a atual estrutura de pesquisa, desenvolvimento e ensino superior? Ou será que os déspotas esclarecidos dos altos escalões, pouco a pouco, darão à sociedade os frutos da atual política para as universidades.


Em tempo: entre a elaboração deste post e sua publicação. um verdadeiro temporal varreu por dentro o maior edifício da UnB. Mostar tais imagens agora poderia soar como oportunismo. A foto das obras do Gama são de ANTES do dilúvio do minhocão.

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