Ambiente virtual de debate metodológico em Ciência da Informação, pesquisa científica e produção social de conhecimento

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Sobre o controle acadêmico da ciência


A UnB recentemente ratificou a necessidade de que os projetos científicos, a serem por ela assinados, devam obedecer estritamente (sic)  à Instrução da Reitoria 01/2008, que disciplina (sic) a matéria. 

Em tese não deveria haver nenhum grande problema quanto ao estabelecimento de princípios e rotinas para que a universidade melhor executasse uma de suas atividades-fim. A exigência de que o projeto apresente relevância acadêmica (sic) tampouco deveria ser tema controverso. 

O nó da questão reside, porém, no julgamento de mérito (apreciação e aprovação - sic) por instâncias burocráticas, não constituídas para tal finalidade. Tais instâncias, a despeito de serem compostas por professores, não têm as qualidades científicas como requisito para a escolha dos membros. A qualificação é apenas administrativa e conjuntural (ser membro do departamento, ou ser indicado para o conselho ou câmara). Isso provoca os seguintes desdobramentos: 
  • o julgamento de mérito será efetuado por uma instância administrativa e não científica;
  • não existem padrões uniformes e claros, posto que a UnB não definiu formulário e critérios para tal (cada instância faz como achar melhor);
  • os pares que procederão ao julgamento de mérito necessariamente não dominam a fundo o tema (ou a especialidade) da pesquisa;
  • não há a possibilidade de debate simultâneo com os julgadores nas 2 últimas instâncias (como em uma banca);
  • a avaliação não é às cegas;
  • elementos externos à instituição (avaliadores ad hoc, por exemplo) não são considerados.

A segunda ordem de problemas é de natureza burocrática. Tramitar um projeto (com análise de mérito) pelo colegiado do departamento, pelo conselho da faculdade e por uma das câmaras, na melhor das hipóteses (com uma combinação favorável de calendário e de relatores), leva, no mínimo, um mês. A UnB, tampouco dispõe de uma política de controle de projetos de pesquisa e a multiplicação das instâncias administrativas (definidas na IR 1/08) não possibilitará que isso ocorra, pelo contrário. Outras IES, ao contrário, há tempos têm desenvolvido políticas institucionais nessa direção, sem aumentar a tramitação. Um exemplo interessante é o da Universidade Estadual de Maringá (UEM), além de ter um controle efetivo dos projetos de pesquisa da instituição (acesse aqui o sistema de gestão de projetos) , regulamentou a matéria em uma norma bastante clara (acesse aqui a resolução 110/05 CEP-UEM). Aqui na UnB, a experiência da UEM já foi inspiradora para o relatório de uma comissão do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação, que, infelizmente, não avançou (baixe aqui o relatório da comissão).

O terceiro ponto diz respeito à necessidade de se tornar a julgar o mérito de algo que já foi analisado (com muito mais isenção e competência) pelo financiador da pesquisa. Nesse sentido, o Art 11º da normatização da UEM é bem interessante ao definir que: "O projeto de pesquisa aprovado por agências financiadoras, ou ainda aprovado pelo colegiado de programa de pós-graduação, mediante comprovação, deve ser encaminhado ao departamento apenas para ciência" (destaquei). Isso significa que os projetos já aprovados por organizações sérias não serão julgados pela universidade, esta, porém terá controle de que ele está ocorrendo. Há que se definir quem tem o direito de julgar o que, caso contrário todas as condições para a criação de um pequeno tribunal universitário inquisitorial estarão dadas. O que será que o Santo Ofício achava da relevância acadêmica das pesquisas de Copérnico e Galileu?

Como funciona isso hoje na UnB? Não funciona. Não há nenhum banco de dados com os projetos docentes e nem o CDOC tem uma política de recolhimento sistemático de projetos e relatórios finais. A ausência de institucionalização da pesquisa docente gera problemas para para os programas de pós-graduação que têm docentes sem projetos aprovados por agências financiadoras, uma vez que o item "participação em projetos" é muito importante para a avaliação da CAPES e nem todos os professores conseguem "lattesjar" (clique aqui para entender o termo) devidamente suas pesquisas. É preciso que a institucionalização não seja confundida com avaliação de mérito.

Já vivenciei, em toda sua plenitude, os 3 tipos de problemas que apontei acima: análise de mérito indevida (do que já havia sido aprovado), excesso de burocracia e gestão documental descontrolada. Quando encerrei minhas atividades na UEM e, na sequência, tomei posse na UnB, eu coordenava um projeto do edital universal, do CNPq. Assim que comunicado sobre minha nova instituição, o CNPq preparou termo aditivo que foi, prontamente assinado pelo reitor da UEM. Aqui na UnB o aditivo tornou-se um processo. O processo foi para o Serviço de Convênios e Contratos (SCO), que o encaminhou à Procuradoria Jurídica (PJU). Detalhe: o projeto nunca envolveu nenhuma contrapartida da UnB e todas as despesas eram feitas diretamente por mim, sem envolvimento de nenhuma outra instância. O parecer da PJU foi negativo e afirmou que o projeto, pelo tema, não atendia aos interesses da FUB. A PJU questionou ainda a legalidade de um professor com Dedicação Exclusiva coordenar um projeto junto ao CNPq. Depois de 40 dias, com reuniões e tramitação de outros documentos, finalmente a UnB se dignou a assinar o termo aditivo do CNPq. Na ocasião, por garantia, fiz uma cópia xerox do processo todo. Tive também alguma dificuldade para encaminhar ao CNPq o termo original (já assinado por mim e pela UEM), uma vez que ele havia se tornado parte do processo. Foi difícil convencer o responsável de que ele deveria ser substituído por uma cópia. Após a finalização da transferência formal da pesquisa para a UnB, tentei, em vão, encaminhar uma cópia do novo termo, com todas as assinaturas, para ser anexado ao processo: A SCO não foi capaz de localizá-lo. Ainda hoje sigo sem notícia sobre o processo da SCO. O do CNPq está encerrado, com todos os relatórios aprovados e, de "tão irrelevante" que era, foi desdobrado como minha pesquisa de produtividade e aprovado pelo CNPq (que usa avaliação ad hoc às cegas para julgar o mérito). Quem quiser conhecer o nova pesquisa é só acessar o blog do Digifoto.

O blog Ciência Brasil, além de se posicionar quanto ao tema, disponibilizou os links aos documentos da UnB. Clique aqui para ter acesso aos documentos, além de poder ler uma outra opinião sobre o tema.

domingo, 11 de abril de 2010

O que é ciência e o que é experimentação em ciência?


Alguns manuais defendem que é necessário haver experimentação, concomitante a uma observação sistemática, para que a pesquisa seja considerada científica. Outros vão mais além e afirmam que a experimentação tem que, necessariamente, contemplar uma variável independente e variáveis dependentes. As conclusões científicas seriam resultado da comparação das variáveis dependentes, em função de múltiplas experimentações em relação à variável independente. Outros mais radicais vão mais além e afirmam que isso tudo apenas terá valor científico se for analisado através de métodos quantitativos. Esse é um modelo de ciência tradicional e muito calcado na perspectiva das ciências exatas, dentro de uma abordagem voltada para ciência enquanto prova. Qual é a sua opinião sobre isso? 

Recebi convite para participar de uma pesquisa on-line sobre café. Até tentei colaborar mas achei o questionário longo demais. Mesmo assim formei um opinião sobre uma série de "póréns" da pesquisa. 

A sugestão de atividade é entrar no site da pesquisa on-line e analisá-la sob a ótica de um pesquisador, não de um respondente. Mas para isso vai ser necessário responder, ainda de parcialmente, o questionário.

Acesse aqui o site da pesquisa do café e faça seus comentários abaixo.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Redação de resumos de pesquisa


A finalização dos resumos de projetos de pesquisa apresenta, além da dificuldade inicial de definir a pergunta de partida, problemas quanto à redação do texto. Uma coisa é escrever, outra é entender o que foi escrito. Uma terceira coisa é o que os leitores entendem do que você escreveu. A redação científica, por esses motivos, deve primar por duas características principais:
  • precisão
  • clareza
A proposta do exercício é a seguinte: cada comentarista faz a análise do resumo que já se encontra postado e, na seqüência adiciona um novo resumo.

Seminário do CID: Competência informacional ou letramento/alfabetização informacional



Auditório do CID
20 de abril de 2010, de 14h a 18h.

De acordo com Thalita Franco dos Santos (mestranda do PPGCINF - Lattes),  O tema do Seminário tem sido tratado com grande ênfase no âmbito da  Ciência da Informação e um dos aspectos que ainda não está consolidado é a tradução do termo information literacy (termo  originário dos EUA, berço desses estudos). De acordo com Dudziak (2003) a expressão ainda não possui tradução para o Brasil, razão porque podemos encontrar na literatura termos como
  • alfabetização informacional, 
  • letramento, 
  • literacia, 
  • fluência informacional, 
  • competência em informação
  • competência informacional.
Palestrantes: 
  • Mark Hepworth (Blog) é professor do "Department of Information Science" da Loughborough University (Inglaterra). O professor se especializou em estudos das necessidades de informação de diferentes grupos. Tais estudos despertaram seu interesse pelo tópico "letramento informacional" relacionado com conhecimento, habilidades e atitudes  para uma aprendizagem efetiva, com o objetivo de criar conhecimento. O palestrante está finalizando o livro: 'Teaching information literacy for inquiry based learning', em co-autoria com Geoff  Walton. O livro estará disponível em setembro de 2010.
  • Bernadete Campelo (Lattes) - professora da Escola de Ciência da Informação da  UFMG, realizou sua pesquisa de doutorado sobre o tema letrametno   informacional, tema sobre o qual tem´publicado recentemente no  Brasil e no exterior.
  • Mediadora: Sely Costa (Lattes) - Diretora da Biblioteca Central da UnB e professora do PPGCINF
Para entender mais sobre o tema:

  • CAMPELO, Bernatede.  O movimento da competência informacional: uma   perspectiva para o letramento informacional. Ciência da Informação.  v.32, set/dez 2003.
  • DUDZIAK, E. A. Information literacy: princípios, filosofia e   prática. Ciência da Informação, v.32, n.1, 2003
  • MIRANDA, Silvania . Identificando competências informacionais.  Ciência da Informação. V.33, n.2, maio/jun 2004.
  • SILVA, Helena et al .  Inclusão digital e educação para a   competência informacional: uma questão de ética e cidadania. Ciência  da Informação. v.34, n.1, p. 28-36, 2005.
  • VARELLA, Aida; BARBOSA, Marilene Abreu A multirreferencialidade de  saberes nos atos da mediação do conhecimento: o aporte das ciências  cognitivas à ação pedagógica das bibliotecas. Perspectivas em  Ciência da Informação, v.4,n.2, p. 187-203, mai. /ago 2009.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Seminário do CIC

  • "Monitoração de Atividades Maliciosas na Internet Brasileira e Análise de Malware"
  • Local: Auditório do Instituto de Quimica/UnB
  • Data 09 de abril às 09:00hs
  • Prof. Antônio Montes Filho

Categorização e representação da Ciência no Brasil



A representação da ciência é dividida em um esquema hierárquico de grandes áreas, áreas, subáreas etc. Outro dia, ao lançar em meu Lattes uma produção que não cabia em nenhuma das arbitrárias subdivisões, percebi a impossibilidade de referenciar uma discussão ligada à Ciência em si. O Lattes não contempla a possibilidade de uma produção que abranja a Ciência como um todo e que não seja focada em uma área específica. É como se cada pesquisa fosse voltada para o próprio umbigo. Como se um furacão só pudesse ser objeto da meteorologia e não da psicologia (o medo que ele pode causar), da agronomia (suas implicações para a colheita) etc. Esse exemplo é do Eduardo Tomanik e está no excelente livro sobre metodologia "O olhar no espelho". 

Hoje recebi uma piada boba que traduz bem esse tipo de representação do conhecimento norteador da plataforma Lattes:
CIÊNCIA MODERNA:  
1. Se mexer, pertence à Biologia.
2. Se feder, pertence à Química.
3. Se não funciona, pertence à Física.
4. Se ninguém entende, é Matemática.
5. Se não faz sentido, é Economia ou Psicologia.
6. Se mexer, feder, não funcionar, ninguém entender e não fizer sentido, é Informática.
As categorias são tão bem definidas que talvez fosse o caso de sugerir um novo campo para o Lattes, no qual, para cada produção, haveria um formulário para ser clicado com as alternativas "mexe", "fede", "ninguém entende" etc.  O sistema poderia ser aprimorado de tal modo que tais cliques já indicassem automaticamente as áreas e subáreas do conhecimento, poupando-nos dos 4 a 5 minutos que gastamos hoje para apontar tais dados em cada área arrolada. Isso projeta, para um pesquisador com 30 produtos anuais, uma média de 450 minutos por ano, gastos apenas para indicar as subáreas de sua produção científica. É muito tempo para nada.

Apesar da evidente (e tola) provocação que faço aos meus alunos oriundos da TI, a questão é bem mais aguda do pode imaginar um iniciante em pesquisa científica. As métricas de produtividade pelas quais a produção científica nacional é avaliada são totalmente baseadas em esquemas artificiais que, ao invés de tentar representar a realidade, tentam fazer, paradoxalmente, com que a realidade se adeqüe à sua própria representação. Isto é: os parâmetros que tentam representar o que nós cientistas fazemos não condizem com as nossas atividades. Ao contrário, nós cientistas é que temos que nos adequar àquilo que foi arbitrariamente pré-definido pelas métricas da CAPES, embasadas nas categorias do Lattes. 

Todos os pesquisadores do Brasil gastam horas e horas, que deveriam ser dedicadas à pesquisa, preenchendo a plataforma Lattes. Os problemas conceituais de representação mencionados, além de um sistema pouco amigável e muito lento, induziram à criação de um novo verbo, que (espero) deverá brevemente ser incorporado pelo Dicionário Houaiss: 
  • Lattesjar: palpitar sofrido, longo e agoniante, resultante do processo de preenchimento da plataforma Lattes.
 Conjugação:
  • Eu (cientista) lattesjo. 
  • Tu (estudante) tens que lattesjar; 
  • Ele  (gestor da CAPES) não sabe o que é lattesjar;
  • Nós (trouxas) lattesjamos;
  • Vós (candidatos a trouxas) tendes que lattesjar ainda mais;
  • Eles (definidores da políticas de C&T brasileira) defendem o lattesjar porque não sabem o que é Ciência.

Um interessante texto do editor da Clinics, um conceituado periódico nacional, disponível na Scielo, aprofunda a questão das métricas da CAPES (acesse o texto aqui). O blog Ciência Brasil fez irônico (e sério) post sobre a questão à época da publicação pela Clinics (acesse o post aqui).

Uma conceituada pesquisadora da USP, cujo nome é referência unânime na Arquivilogia tomou uma atitude inédita, corajosa e radical: apagou toda a sua produção científica do Lattes, mantendo apenas os dados mínimos de identificação e titulação (já que algumas universidades - como a UnB-  exigem uma cópia do Lattes para  atestar a titulação para que um eventual membro externo possa participar de bancas, ignorando que quem atesta a titulação é um diploma, não o banco de dados que tem a representação dele).  Acesse aqui esse CV e depois googleie o nome da professora (entre aspas) para ver os resultados.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Definição do problema de pesquisa


A pergunta de partida é essencial para a definição do problema de pesquisa. Sem saber o que se quer fazer não dá para iniciar a pesquisa. O tema é tão "cabeludo" que muitos, como o personagem da charge acima perdem os cabelos. Para facilitar a vida há uma série de materiais sobre isso na internet. Esse aqui é bem sintético e preciso.

Você já tem a sua pergunta?

Anote no campo comentário
  • nome e e-mail
  • curso (Pós em CI ou Especialização em GSI, ou outro)
  • tema da pesquisa
  • bibliografia relevante (só autores)
  • pergunta de partida
  • hipótese (se houver)

domingo, 4 de abril de 2010

Ciência e Ciência da Informação


CI-ÊN-CI-A
Thiago Gomes Eirão

Ciência palavra proparoxítona, substantivo feminino. Pronto! Assim pode ser definida ciência, talvez. Pode-se ir mais longe e encontrar a origem da palavra ciência, no latim, representado por scientia. Porém ainda é muito vago, ainda falta consistência para se entender o que realmente significa esta palavra. Certeza em ciência é algo relativo e totalmente provisório. No dicionário Houassis (2008) ciência é definida como
“Atividade humana baseada em conceitos e princípios desenvolvidos racionalmente e na utilização de um método definido, por meio do qual se produzem, se testam e se comprovam conhecimentos considerados objetivos e de validade geral: as novas descobertas da ciência”.
Agora sim ficou claro! Não? Talvez.
Ciência não se explica, ciência se experimenta, testa, comprova ou refuta, isto também é relativo. Nem toda ciência pode ser experimentada ou testada, qualquer generalização neste sentido corre o risco de cair em um erro. Ciência então pode ser entendida como o campo responsável pelo bem e desenvolvimento da raça humana? Será? Toda ciência é para o bem? Onde ficam os inúmeros artefatos de guerra desenvolvidos através das evoluções científicas? Bem de quem? Uma das definições mais comuns para caracterizar ciência é aquela que diz: para ser ciência é preciso um campo de estudo, um objeto, um método e objetivos. A busca por definições e explicações sobre o que seja realmente ciência, talvez não seja a melhor forma de entendê-la. O conhecimento científico está tão presente na vida das pessoas que seu entendimento talvez já seja tacitamente sabido. Então as pessoas fazem ciência em seu cotidiano? As pessoas “comuns” são cientistas? Sim e não.
Sim, pessoas comuns são cientistas. Não é preciso se enquadrar naquele rótulo dado pela arte do cinema que, cientista é aquela pessoa isolada do mundo, que se trancafia em um castelo, tem um monstrinho como ajudante e que numa noite chuvosa e de tempestade inventa algo que vai revolucionar o mundo. Qualquer pessoa pode ser um cientista e neste contexto talvez a experimentação possa ser um sinônimo de ciência. Já o não da afirmação anterior, diz respeito à indagação se as atividades das pessoas em seus cotidianos podem ser entendidas como ciência. Não se podem confundir problemas administrativos com problemas científicos, problemas de trabalho, geralmente, não costumam ser problemas do campo científico. Construir um robô capaz de imitar as expressões de uma pessoa, através de impulsos neurais transmitidos por ela mesma, necessariamente não configuram-se como ciência e neste caso, experimentação pode não ser sinônimo de ciência.
Outra coisa interessante neste rótulo de ciência são as grandes descobertas ocorridas em momentos de inspiração suprema dos cientistas. As invenções não surgem do nada, na realidade, elas surgem de um trabalho contínuo e árduo de pesquisa, teste, experimentação (de novo esta palavra!), erros e acertos. Cair uma maçã na cabeça de alguém ou alguém entrar numa banheira e descobrir leis da física é apenas um acontecimento pitoresco perto de toda pesquisa envolvida.
Uma das poucas certezas que se pode ter após esta reflexão é que não há consenso para o que seja ciência e aí ciência pode ser entendido por algo que se vive, convive e utiliza. O engraçado de buscar uma maneira simples, que explicite o que seja essa tal ciência e esse tal de conhecimento científico é que, cada vez mais se encontram dúvidas ao invés de ideias concretas. Alunos recém ingressados em cursos de pós-graduação ou até mesmos em programas de iniciação científica carregam consigo pelo menos duas certezas: uma definição construída na mente do que viria a ser ciência e que seu projeto de pesquisa é um item científico. A primeira certeza, no transcorrer da pesquisa aos poucos vai transformando-se em dúvida, para um pouco depois transformar-se em absurdo, algo fora da realidade. Para alguns ciência significa neutralidade, para outros o questionamento de questões físicas, por exemplo, a água que ferve, pode ser a maneira pela qual possa ser explicada a ciência. Até mesmo arremessar um giz na testa de uma japonesa qualquer, pode ser uma maneira de tentar mostrar a falibilidade da ciência. A desconstrução de tais ideias, geralmente, é acompanhada por uma tempestade de dúvidas e incertezas diárias, que para o bem ou mal, serve para mostrar que pesquisa, pesquisador são coisas e seres permeados de questionamentos, carências e de necessidade de respostas.
Já a segunda certeza, o projeto de pesquisa, esta sim é uma certeza que de chega a amedrontar seus criadores. Um projeto, geralmente, não chega inalterado no final do processo de pesquisa. Muitos ganham algumas dezenas de versões, outros são rasgados em milhões de pedacinhos, alguns morrem e renascem como outro projeto e outros, bem os outros estão completamente perdidos em alguma gaveta ou em uma pastinha bem escondida em algum notebook. O processo de pesquisa tende a sacudir a cabeça dos pesquisadores e o talvez e o relativo, talvez, sejam palavras que sempre martelam a mente dos mesmos.
Então qual a conclusão que se chega sobre ciência? Nenhuma! Conclusões são definitivas e restritivas, dois conceitos que, dificilmente, podem ser entendidos como sinônimos de ciência. Questionamento, dúvida e curiosidade, talvez, sejam palavras mais próximas do que vem a ser ciência e o saber científico. Talvez um dia, possa ser encontrado o denominador comum que defina ciência, mas, talvez, a dúvida é a que permitiu e continua permitindo que a ciência exista e se desenvolva. Mais isso também é outro talvez .

OBS: O uso de tantos “talvez” é proposital e pelo menos isto é definitivo

quinta-feira, 1 de abril de 2010

A volta às aulas de metodologia... ou
"Como será amanhã? Responda quem puder ...

Muitos alunos têm me perguntado, sistematicamente, se teremos ou não aula nessa semana. Isso vem se repetindo desde que entrei em greve. Já cheguei a receber e-mail dizendo que não há nenhum aviso no blog (?!)

Reafirmo aos desavisados que no blog da disciplina há, SIM, um aviso quanto à greve . Basta ir ao post do dia 18/03 e lá ler o seguinte Lá diz o seguinte:

"Minha decisão (...) é entrar em greve (...)"

Sempre fui contra às greves nas universidades públicas, por princípio, como já manifestei em diversas ocasiões. Também já expliquei os motivos que me levaram a aderir à atual greve e mantenho-me fiel à minha decisão.

Sim, a greve é ruim e incômoda para todos nós da universidade, mas...
  • Não fui eu quem pediu para receber menos... (com o meu salário de hoje, cortado apenas parcialmente, a UnB, nas minhas contas, já me deve o equivalente a um bom notebook, sem juros, multa ou correção)
  • Não fui eu quem convocou a greve...
  • Não sou eu quem tem o poder-da-caneta para garantir os pagamentos integrais...
  • A decisão sobre o fim da greve não é minha somente, porém coletiva e o coletivo decidiu pela manutenção da greve.
Quando se dará o retorno? Não sei. Não depende de mim.

A minha parte estou fazendo ao continuar a manter ativa a discussão de metodologia (via blog) e ao seguir com minhas atividades de pesquisa. Também procuro atuar manifestando nas redes sociais, na tentativa de sensibilizar as parcelas da sociedade e da academia que se dispõem a me ouvir e a, eventualmente, aumentar a pressão sobre aqueles que têm o poder-da-caneta para decidir o imbrglio em favor do Brasil (ou seja, usar o poder-da-caneta para ajudar a retirar a universidade pública de pesquisa do despenhadeiro onde ela se encontra)...

Sugiro que vocês também façam o mesmo: participem do blog de metodologia, desenvolvam seus projetos e façam a pressão para o outro lado. Não perguntem a mim se amanhã terá ou não aula; perguntem ao Reitor, ao MPOG. ao MEC, ao STF, ao políticos etc.

Aos que não quiserem fazer nada, indico que acompanhem ao noticiário e às páginas e blogs que informam sobre a greve Ciência Brasil, AdunB, UnB e outras.

Aproveitem a ausência das aulas e participem mais ativamente do blog!!!

Perguntas e mais perguntas...

  1. Existe uma lógica no universo? 
  2. Será que existe uma lógica universal e a ciência é a grande responsável por desvendá-la? 
  3. É por isso que fazemos Ciência, para descobrir os mistérios do universo? 
  4. Será? 
  5. No que cada projeto de pesquisa dos iniciantes em ciência irá contribuir para preencher as lacunas do conhecimento sobre o o Homem, o Universo e tudo o mais? 
  6. Você que está começando um projeto de pesquisa já pensou nisso? 
  7. O que você responderá para o amigo curioso ao ser indagado porque o seu projeto é científico?
Uma pequena entrevista do famoso cientista brasileiro Marcelo Gleiser pode ajudar a você solucionar definitivamente todas essas questões.
Baixe-o aqui e depois utilize o campo comentário para responder as perguntas de 1 a 7, lembrando que não vale usar o sistema "V" ou "F".